quarta-feira, março 19, 2008

"... com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar"

"Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos"
(Eduardo Galeano - Jornalista e escritor Uruguaio)

O primeiro dos bens, depois da saúde, é a paz interior, eu a tenho a partir do prisma de que tudo faço pelos meus sonhos.Não consigo acreditar na teoria que nos conduz ao comodismo e diz ao pé do ouvido, "você veio ao mundo para isso", "se for para ser, vai ser", ninguém vem ao mundo com uma missão pré determinada.
Tenho a ira dos deuses mitológicos gregos ao ouvir um ser a me dizer que nosso futuro está traçado, creio com todas as minhas forças que nós somos o reflexo de nossas ações, se estiver fadado a matar a minha fome com uma maçã, terei de esticar os braços e colhê-la direto da árvore.
Destino é uma farsa que invetamos para justificar nossos atos ou aceitar com facilidade as imposições que nos são feitas durante a vida. Não posso compactuar com a idéia de que uns já nascem predestinados a sofrer e outros a serem felizes, que Deus seria esse?
O livre arbítrio nos conduz para os caminhos que desejamos, o tempo vai se encarregar de mostrar o quanto estamos certos ou errados, por isso digo que tenho minha paz interior, pois nada me mim é fruto do maldito "destino" e sim dos meus atos, cada um é absolutamente responsável pelo que cativa. Cada um sabe o que cativa e principalmente, QUEM cativa.

segunda-feira, março 17, 2008

"Um manual da vida por favor!"

Foi gelado, foi cruel!

Hoje, sai cedo de casa como em todos os dias. No mesmo vagão de todas as manhãs encontrei o mesmo espaço encostado na porta. Gosto deste espaço me faz distraído, a paisagem vai passando e não preciso observar as pessoas se empurrando por um espaço, seus hálitos amanhecidos, seu nervosismo por uma perna que roça a sua, os pagodinhos e músicas eletrônicas que insistentemente escapam dos ouvidos daqueles que não respeitam o espaço alheio, por mais que esse espaço pareça não existir em meio a tanta gente.
Mas hoje, tudo era aparentemente igual, pessimista que sou sempre observo o mundo pelo prisma imutável da insanidade e da fraqueza humana, mas hoje foi impossível não notar a incoerência humana que com seus olhos sofridos me pediu atenção.
Na estação Guilhermina embarcaram uma mãe e seu filho, o vagão já estava com seus corredores repletos, restando apenas os vãos entre as portas para os passageiros. Ali, encostados na porta a minha frente eles se escoraram, o menino entrou chorando e gritando, a mãe lhe puxava a cabeça contra o ombro, tentava de todas as formas abraçá-lo e mantê-lo calmo, o garoto portador da síndrome de Down (perdoem-me se a grafia estiver errada) insistia em falar alto “Mãe, eu não posso ir de metrô, eu não agüento mais, eu nunca mais vou olhar na sua cara, eu quero morrer”, mais tarde ficou claro os temores do garoto, “Olha aí, está vendo o que fez? Todo mundo está me olhando, todo mundo quer me ver doente”, ele começou a gritar “Pode olhar. Mãe, vamos de táxi, o vô paga, porque não podemos ir de carro, eu tenho ódio de você, eu vou sair e voltar para casa, não quero mais metrô, só vou se for de carro”, a mãe com uma paciência que só se justifica pela sua condição materna tentava de todas as formas abraçá-lo, ele fugia do abraço, se agarrava no ferro do metrô e chorava, a mãe foi por trás lhe fez alguns afagos na cabeça, pediu desculpas e o abraçou, “Filho, desculpa a mãe, mas o carro quebrou, não tem outro jeito de ir ao médico, deixa a mamãe cuidar de você que ninguém vai ficar te olhando, me abraça”, o garoto cedeu, abraçado à mãe ele seguiu até a estação Bresser. No túnel entre as estações Belém e Bresser o vagão ficou parado por um tempo, o garoto começou a sentir-se sufocado e recomeçou a discussão encerrada há tempos, mas muito mais nervoso “você não acha que eu não preciso ficar “de humilhado” no metrô? Eu tenho ódio de você, cadê o pai?”, a mãe insistia em abraços e pedidos de “calma”, “já vamos sair daqui”, em um momento de raiva o garoto se virou e de supetão deu um tapa na cara da mãe para em seguida se virar de costas para ela, ali parada, de frente para mim ela começou a chorar, mas era um choro diferente, daqueles que quem sofreu conhece, ela não grita, ela não contorce um só músculo da face, ela não emite um só som, ela apenas deixa correr pelo rosto a lágrima. Assustei-me.
Ela puxou o filho para perto e o abraçou, no ombro dele ela continuou chorando. Estava já um pouco inquieto com aquela cena, aproximei-me dela e perguntei se ela queria ajuda.
Ela me pediu para que a ajudasse a sair com ele do vagão, a próxima estação era Brás, todo o vagão olhava para ela e o filho. Assim que a porta abriu ajudei-os a sair do vagão, ela foi em direção aos bancos e o filho atrás, como se nada tivesse acontecido ele pergunta, “porque você está chorando mãe?”, ela diz, “nada, dor de cabeça”, eu sentei do lado dela e perguntei se poderia ajudar com mais alguma coisa, ela me disse que não. Perguntei se ele sempre ficava agitado dentro do metrô, “ele não gosta de lugares públicos, acha que todos sempre estão lhe olhando”, lhe perguntei a idade do menino, “24 anos – meu Deus, minha idade – mas o médico disse que a idade mental dele é de uma criança de 11 anos”, percebi a aliança em sua mão e cometi a grande bobagem do meu dia, “tenho um celular aqui, se a Sra. quiser pode ligar para alguém, será que seu marido não pode ajudá-la”, “meu marido morreu há um ano”, pensei em consultar aquele manual que sempre digo “manual das situações pelas quais não passei ainda”, mas ele estava bem longe, “desculpa” foi o máximo que conseguiu se ouvir de mim.
A intensidade do seu choro aumentou, me senti culpado, em um impulso segurei sua mão, “quer que eu compre uma água para a Sra.?” , ela fixou o olhar no garoto que brincava ao lado da lixeira e não falou nada, como desejei não estar ali, acho que nunca fui preparado para lidar com essas circunstâncias. Ela me perguntou a hora, “nove e quinze”, “preciso levá-lo para a consulta”, “de que forma posso ajudá-la?”, ela disse que já tinha ajudado que ia pegar o metrô de novo, antes de partir me disse “obrigado, não julgue meu filho por aquele tapa”.
Fiquei absolutamente pasmo com o olhar dela a vigiar a resposta que ia partir de mim, prolixo que estava só emiti um “de jeito nenhum”, ela então disse, “sabe, o médico disse que ele tem no máximo mais uns três anos de vida, depois desse tempo estarei só no mundo, fui casada por 22 anos, perdi meu marido, agora vejo meu filho nessa condição, aquele tapa na cara foi da vida”, segurei o choro para não contagiá-la, sei lá essa coisa de chorar é mesmo estranho, sempre que vejo alguém chorar fico mais sensibilizado.
Ela levantou, apertou minha mão, “vou chamar um táxi”, chamou o filho, desceu as escadas e acho que nunca mais vou voltar a olhar para aquela mulher e seu filho, mas uma coisa dela vai ficar eternamente em mim, A LIÇÃO.
Quando ela foi embora, chorei, fiquei esperando um próximo vagão, naquela curta espera e no caminho até o trabalho passou por minha cabeça todos os meus problemas, todas as minhas dores, minhas saudades e meus medos, descobri que eles não eram absolutamente nada quando colocados ao lado da história daquela mulher que não tem nem o direito de sonhar com um futuro melhor, já que neste futuro uma certeza ela já tem!

quarta-feira, março 12, 2008

Nova dosagem para o "rebanho"

Em uma era solitária, em que o indivíduo não se dá conta do coletivo, onde o espaço público é ferido e marginalizado, a instituição mais arcaica do mundo consegue ser notícia mais uma vez.
Agora “criando” mais 4 pecados ao rebanho - que tem dia e hora para ser ordenhado – e dividindo as responsabilidades com o coletivo, na contramão de qualquer preceito religioso – exceto pelo judaísmo – que julga seu povo por atos individuais.
Um espantoso avanço na concepção de mundo do catolicismo, que entendeu as ações antiecológicas como munidas de pena, agora espiritual. E parece inevitável que a manipulação de embriões que seriam descartados, passe pelo crivo do clero, claro que há discussões, positivos e negativos, mas a interferência na sociedade deixa marcas profundas de retrocesso.
Desigualdade social é pecado, o Brasil então se oficializa como a “Sin City” (cidade do pecado) latina, e levanta a bola da hipocrisia, onde o dízimo é aquele entregue ao pastor, ao padre, mas o mendigo à soleira da porta, que serve de adorno para a entrada catedrática dos templos – até a hora em que se embriaga e começa dizer besteiras - é desprezado e julgado.
Talvez, por isso o budismo e as religiões orientais tenham inflado o número de adeptos, pois o homem por si só entendeu que os dogmas retrógrados cerceiam a identidade do indivíduo.
Ah, agora o tráfico e o uso de drogas também é pecado viu!!!

segunda-feira, março 03, 2008

A Erva do Diabo

Ao ler a obra prima de Castaneda, me deparo com meu real universo, seu verdadeiro valor e a força que exerce em nossos sentimentos.
Sinto-me desperto e alegre, pois ao olhar pela janela, mesmo entre cacos que sobraram deste eterno furacão que nos devasta e nos arrasta para seu cerne, muitas vezes atraente e fulgurante, vejo meu eu, sem egocentrismo e posso me dissipar na ventania e no caos.
As experiências guiadas por Dom Juan, reforçam os preceitos de que o conhecimento não possui limites, não possui dogmas pré-estabelecidos e pode ser germinado no deserto infértil dos corações lamuriados.
O medo que não nos liberta, mas nos reprime e nos afasta do caminho da verdade, é o mesmo que cria a situação propícia para o cuidado e o respeito com o conhecimento. A clareza abre novos caminhos, novas portas em novos lugares, mas tanto brilho pode ofuscar onde realmente há um coração. O poder é a sensação da vida em nossas mãos, essa força borbulhante afasta a racionalidade e a sabedoria de nosso caminho. E a velhice nos remete a realidade, nos derruba em frente à humildade e fragilidade, enquanto os vícios podem estagnar uma mente sã.
Apesar da cientificidade da escrita de A Erva do Diabo, que enquanto pesquisa antropológica é um estudo completo e intenso, há o fato de não permitir uma leitura fluída tal qual em um gênero literário. Mas seu real propósito não desaparece, que é retomar às bases do conhecer o próprio Eu e assim construir sua própria revolução.

sábado, março 01, 2008

Atado ( previous name)

Quão pesaroso é lançar ao destino a sorte do amor
Confiar ao outro o tempo e as angústias
Responder aos anseios com sincero ardor
Dividir o coração e suas lamúrias

Tua presença em meus poros
evaporou meus medos
As lágrimas de teus olhos em meus olhos
se esgueiravam entre meus dedos

Como em um sonho pesado
onde não se vê o tempo
Deixou seu amado
ao prazer dos ventos

E sem ti não havia bossa
não havia Tom ou linha
nem sequer harmonia disposta
a livrar-me desta esquizofrenia.

Tempo

Não conto o tempo e o vento segue
Não laço o passo, melhor ver seu descompasso
Prefiro olhar o mar, me deixar
não acreditar que pode acabar, mesmo que só reste

Que seja o tempo que não cala
Ou o vento que me empurra no ar
O suspiro de força pra lutar
Ou deixar...

E não me dou conta do desperdício
Crio o meu novo amanhã
Reinvento o meu ontem
Assim, assim....

É difícil só olhar
É impossível ter paciência
E deixar passar
Então não conto o tempo e o vento segue

Desiludido?

As desilusões fecundam nosso imaginário, limitando nossos passos, ao obscuro do que vem sendo de geração em geração, o curto, menos penoso e lícito jeito de viver.
Lícito, pois não é novidade que as lideranças gostam de sentir o poder borbulhando em suas mãos, não se leva em conta a individualidade criativa, nem a força coletiva, a união por ideais. Alimenta–se o conformismo, e esse alimenta as massas, que anseiam por uma dominação não identificada e carecem de receitas prontas de felicidade instantânea.
O sujar as mão hoje, é a defesa do bem próprio, o interesse pessoal – “e porque diabos deveria correr, suar e gritar, ninguém mexeu comigo” – dizem os novos baianos, os novos paulistas, os novos cariocas, os novos vencedores, vencidos, que não precisam do respeito ao outro, - a não ser que esse seja o trampolim da felicidade – é difícil respeitar o irrespeitável, é difícil aceitar o que ninguém quer aceitar.
“Prefiro não nadar contra a corrente, sigo o fluxo e tudo bem”, até o desfiladeiro, quando a queda nas rochas for inevitável, insuportável apelo de arrependimento, o grito de ajuda e socorro ecoa das cavernas mais ocultas e inabitáveis, e onde não crescia nem mesmo a grama, a rama de rosas brota imponente e vencedora.A crise não assombra enquanto não bate a porta, enquanto o calo não incomoda, o sapato aperta, o pé quer correr.